14 de set. de 2010

A história de Zé do Caroço contra a temível Kátia Flávia (Piloto)




[Som de pandeiro. Imagem aérea de uma praça, numa cidade do interior de Minas Gerais.]

CORO:
Por entre o realejo
Lá no fim do dia
Por entre o realejo
Lá no fim do dia
Por entre o realejo
Lá no fim do dia

[A imagem vai se aproximando de ZÉ, até fechar em seu rosto. ZÉ e TIÃO circulam pela cidade.]

ZÉ:
Se precisar de alguma coisa
Vai lá no meu armazém
Tem de tudo-

TIÃO:
-quase tudo tem

ZÉ:
Se precisar de alguma coisa
Vai lá no meu armazém
Tem de tudo-

TIÃO:
-quase tudo tem

ZÉ:
Se precisar de alguma coisa
Vai lá no meu armazém
Tem de tudo-

TIÃO:
-quase tudo tem

ZÉ:
No meu armazém
Tem de tudo

TIÃO:
Quase tudo

ZÉ:
Tem rodo,

TIÃO:
Tem barbante,

ZÉ:
Tem farinha, pedra-pomes,

TIÃO:
Prendedô, passadô, escorredô,

ZÉ:
Esmalte vermelho

ZÉ e TIÃO:
E tem até
Couro pra pandeiro
E tem até
Couro pra pandeiro

TIÃO:
É, mas tudo é embrulhado
Num papel fuleiro
Mas tudo é embrulhado
Num papel fuleiro

[ZÉ e TIÃO circulam em frente ao armazém de MARIA.]

ZÉ:
Se precisar de alguma coisa
Vai lá no meu armazém
Tem de tudo-

TIÃO:
-quase tudo tem

ZÉ:
Se precisar de alguma coisa
Vai lá no meu armazém
Tem de tudo-

TIÃO:
-quase tudo tem

ZÉ:
Se precisar de alguma coisa
Vai lá no meu armazém
Tem de tudo-

TIÃO:
-quase tudo tem

ZÉ:
Mas se você não vem
A saudade é longa

TIÃO:
Dobro minha manga

ZÉ:
A saudade é tanta

TIÃO:
Te vendo uma fanta

ZÉ:
A saudade é dura

TIÃO:
Vendo também miniatura

ZÉ:
A saudade não passa

ZÉ e TIÃO:
Só não vendo de graça

ZÉ:
A saudade me cala

TIÃO:
Não tem trocado, leva bala

ZÉ:
A saudade é um bocado

TIÃO:
Paro de vender fiado

ZÉ:
A saudade é um bocado

TIÃO:
Paro de vender fiado

[ZÉ e TIÃO caminham de volta ao Armazém do Zé.]

ZÉ:
Se precisar de alguma coisa
Vai lá no meu armazém
Tem de tudo-

TIÃO:
-quase, quase tudo tem

ZÉ:
Se precisar de alguma coisa
Vai lá no meu armazém
Tem de tudo-

TIÃO:
-quase tudo tem

ZÉ:
No meu armazém
Tem de tudo

TIÃO:
Quase tudo

ZÉ:
Tem rodo,

TIÃO:
Tem barbante,

ZÉ:
Tem farinha, pedra-pomes,

TIÃO:
Prendedô, passadô, escorredô,

ZÉ:
Esmalte vermelho

ZÉ e TIÃO:
E tem até
Couro pra pandeiro
E tem até
Couro pra pandeiro
E tem até
Couro pra pandeiro

ZÉ:
Diacho!

TIÃO:
Admita, Zé! Era a Escandalosa quem trazia os clientes pra cá.

Ela é atenciosa, ela é jeitosa e ela é BONITA!

ZÉ:
E ela abriu um armazém só pra me atingir. Mas deixa! Ela vai ver

o dela, eu ainda vou dar a volta por cima!

TIÃO:
Não por aqui. Outro dia tavam vendendo as botas de Judas na

praça!

ZÉ:
Eu coloquei tudo que tinha nesse armazém! O que eu fiz pressa

mulher querer acabar comigo assim!? Eu não sei mais o que fazer,

Tião...

TIÃO:
Então pede conselho a alguém que possa te ajudar.

ZÉ:
Quem?

TIÃO:
Tá rolando romaria pra Nossa Senhora Aparecida lá na igreja. Vai

lá. Conversa com a santa. Ela ajuda com certeza!

ZÉ:
Sabe? Eu vou fazer isso mesmo! Obrigado, Tião! [Saindo.] Toma

conta do armazém pra mim.

[Na praça, Zé, caminhando pra igreja.]

MARIA:
Ué, Zé? Não vai cuidar do armazém não?

ZÉ:
Vai cuidar da tua vida, vai, Maria! [Entra na igreja. A igreja

está lotada de pessoas resmungando orações. Se espreme na

pequena multidão até alcançar o altar, onde está a imagem de

Nossa Senhora Aparecida. Não tem coragem de olhar pra santa.]
É de sonho e de pó
O destino de um só
Feito eu perdido em pensamentos sobre o meu cavalo
É de laço e de nó
De gibeira o jiló
Dessa vida
Cumprida
A só
Sou caipira, Pirapora Nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
Sou caipira, Pirapora Nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
O meu pai foi peão
Minha mãe, solidão
Meus irmãos perderam-se na vida em busca de aventuras
Descasei
Joguei
Investi
Desisti
[Chora.]
Se há sorte
Eu não sei
Nunca vi
Sou caipira, Pirapora Nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
Sou caipira, Pirapora Nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
Me disseram porém
Que eu viesse aqui
Pra pedir de romaria e prece paz nos desaventos
Como eu não sei rezar
Só queria mostrar
Meu olhar
Meu olhar
[Olha pra santa.]
Meu olhar
Sou caipira, Pirapora Nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
Sou caipira, Pirapora Nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
Sou caipira, Pirapora Nossa
Senhora de Aparecida

TIÃO:
[Entra correndo e se espreme entre as pessoas pra alcançar ZÉ,

aos gritos.]
Zé! ZÉ! [ZÉ olha pra TIÃO, e segue espremido em sua direção.]

Zé, corre!

ZÉ:
[Alcançando TIÃO.] O que foi?

TIÃO:
É o Chico.

[Quarto de ZÉ. ZÉ está arrumado uma mala.]

ZÉ:
Não faltava nada mesmo!

TIÃO:
Você tem certeza que vai, Zé?

ZÉ:
E tem outro jeito? Coitado do Chico!

TIÃO:
Mas, e o armazém!?

ZÉ:
Fica com ele procê! Armazém do Tião soa bem melhor que Armazém

do Zé.

TIÃO:
Zé, eu tô falando sério!

ZÉ:
Eu também! Ninguém conhece melhor o armazém. E eu não ia poder

continuar com ele, então é todo seu! Eu confio em você.

TIÃO:
Puxa, Zé. Obrigado!

ZÉ:
Aproveita e acaba com a raça da Maria!

TIÃO:
Pode deixar! O Armazém da Escandalosa vai ficar só no escândalo.

ZÉ:
Foi um prazer trabalhar contigo.

TIÃO:
Prazer foi meu! Você é um bom patrão. E um ótimo amigo!

[Som de viola.]

ZÉ:
Tchau, meu amigo.

TIÃO:
Mande notícias!

ZÉ:
Pode deixar.

[ZÉ, sentado só numa poltrona de ônibus, observando a estrada

pela janela.]
Estrada branca
Lua branca
Noite alta
Tua falta
Caminhando
Caminhando
Caminhando ao lado meu
Uma saudade
Uma vontade
Tão doída
De uma vida
Vida que morreu
Estrada
Passarada
Noite clara
Meu caminho é tão sozinho
Tão sozinho a percorrer
Que mesmo andando para a frente
Olhando a lua tristemente
Quanto mais ando
Mais estou perto
De você
Se em vez de noite
Fosse dia
E o sol brilhasse
E a poesia
Em vez de triste
Fosse alegre
De partir
Se em vez de eu ver só minha sombra nessa estrada
Eu visse ao longo dessa estrada
Uma outra sombra a me seguir
Mas a verdade
É que a cidade
Ficou longe
Ficou longe
Na cidade
Se deixou meu bem-querer
E eu vou sozinho sem carinho
Vou caminhando meu caminho
Vou caminhando com vontade de morrer

[Cela de delegacia. CHICO, acompanhado de outro preso, gritando.]

CHICO:
Me tira daqui! Vocês cometeram um engano. Prenderam a pessoa errada. [Resmungando.] Eu sou inocente!


PRESO:
Tenta outra. Essa, por aqui, não cola!

CHICO:
Mas é verdade!

PRESO:
E o que foi que você NÂO fez?

CHICO:
Uma mala de droga.

PRESO:
Você tá ferrado!

CHICO:
Isso não é justo. E que tipo de idiota anda com uma mala de COCAÍNA numa rodoviária?

PRESO:
Pó? Cara, você tá muito perdido!

CHICO:
O pior é que eu nem peguei na mala!

PRESO:
E como foi que te prenderam?

CHICO:
Eu perguntei por que estavam mexendo na minha mala.

PRESO:
Você é idiota?

CHICO:
Não. Eu sou INOCENTE!

PRESO:
E você, obviamente, não é carioca. Ninguém aqui no Rio ia reclamar uma mala que tá na mão da polícia. Não mesmo!

CHICO:
Eu devia mesmo ter sabido que ia acontecer alguma coisa. Azarão do jeito que eu sou.

POLICIAL:
[Entrando.] Ei, caixeiro! Venha. [Abre a cela.] O delegado quer falar contigo.

PRESO:
[Vendo CHICO sair da cela.] Boa sorte!

CHICO:
[Enquanto o policial fecha a cela.] Isso é uma coisa que eu não conheço.

[Escritório do delegado. O delegado está sentado atrás de uma grande mesa branca, mexendo no computador. A porta abre. Entra CHICO, seguido pelo policial.]

DELEGADO:
Ah! O viajante! Sente-se. [dirigindo-se ao policial.] Nos deixe a sós, por favor. [O policial faz uma mesura (se é que isso é possível) com a cabeça e sai.]

CHICO:
Eu posso ajudar em mais nada! Já disse tudo que tinha pra dizer-

DELEGADO:
Calma, rapaz! Quanta marra! [Pausa.] Sente-se. [CHICO senta à frente do delegado.] Eu só preciso lhe fazer mais algumas perguntas.

CHICO:
Mais? Mas eu já não respondi todas?

DELEGADO:
Pelo que parece, não.

CHICO:
Bom... Pergunte então.

DELEGADO:
Você notou alguma mala, ou viu alguém com uma mala parecida com a sua, a partir do momento do embarque até o momento que você entrou na viatura, na rodoviária, daqui?

CHICO:
Não.

DELEGADO:
E você esteve em contato com alguém, no trajeto de viagem ou nas plataformas de embarque e desembarque, que não fosse funcionário da companhia pela qual esteve viajando?

CHICO:
Não.

DELEGADO:
Certo. Eu preciso [entrega um papel a CHICO.] que você assine aqui. [Aponta com um dedo um canto do papel.]

CHICO:
[Assinando.] O que é isso aqui?

DELEGADO:
É uma declaração de soltura. Parece que nós nos enganamos quanto ao conteúdo da sua mala. Só tem roupas e objetos pessoais.

CHICO:
[Surpreso e apavorado.] O quê? Você tá de gozação comigo, não tá? [O delegado faz que não com a cabeça.] Mas a droga, eu vi, estava lá!

DELEGADO:
Mas não está mais. Parece que milagrosamente-

POLICIAL:
[Irrompendo na sala.] Senhor, é melhor ligar o rádio!

DELEGADO:
Ela? [O policial faz que sim.]

CHICO:
[Confuso.] Ela?

POLICIAL:
Kátia Flávia!

CHICO:
Mas quem é Kátia Flávia?

DELEGADO:
É uma louraça belzebu provocante.

POLICIAL:
É uma louraça lucifer gostosona!
É uma louraça satanás gostosona e provocante que só usa calcinhas comestíveis e calcinhas bélicas, dessas com armamentos bordados.
Calcinha de morango, calcinha geladinha, calcinha de rendinha...

DELEGADO:
Ex-miss Febem.
Encarnação do mundo cão casada com um figurão contravenção.

POLICIAL:
Ficou famosa por andar num cavalo branco pelas noites suburbanas.

DELEGADO:
Ficou famosa por andar num cavalo branco pelas noites suburbanas TODA NUA.

POLICIAL:
TODA NUA!

CHICO:
Toda nua?

DELEGADO e POLICIAL:
Toda nua!

DELEGADO:
Matou o figurão.
Foi pra Copacabana.

POLICIAL:
Roubou uma joaninha...

DELEGADO:
E pelo rádio da polícia ela manda o seu recado.

POLICIAL:
Pelo rádio da polícia ela manda o seu recado!

KÁTIA:
[Voz no rádio.]
Get out!
É pra get out!
Get out!
É pra get out!

DELEGADO e POLICIAL:
E pelo rádio, pelo rádio, pelo rádio, pelo rádio
Pelo rádio da polícia ela manda o seu recado

KÁTIA:
Alô polícia
Eu tô usando
Um Exocet

CORO:
Calcinha!

KÁTIA:
Um Exocet

CORO:
Calcinha!

KÁTIA:
[Dentro de uma viatura, usando o rádio.]
Alô polícia
Eu tô usando
Um Exocet

CORO:
Calcinha!

KÁTIA:
Um Exocet

CORO:
Calcinha!

KÁTIA:
Meu nome é Kátia Flávia
A godiva do Irajá
Me escondi aqui em Copa
Meu nome é Kátia Flávia
A godiva do Irajá
Me escondi aqui em Copa
Meu nome é Kátia Flávia
A godiva do Irajá
Me escondi aqui em Copa
Meu nome é Kátia Flávia
A godiva do Irajá
Me escondi aqui em Copa
Alô,Alô Polícia!
Polícia pode vir
Polícia Belford Roxo, de Duque de Caxias
Polícia Madureira, polícia Deodoro
São Cristóvão, Bonsucesso, da Benfica
Da Pavuna, da Tijuca, de Quintino, do Catete, Grajaú
Polícia do Flamengo, Polícia Botafogo, da Barra da Tijuca
Polícia, Polícia, Polícia, Polícia pode vir
Por que
[No escritório do delegado, voz no rádio.]
Meu nome é Kátia Flávia
A godiva do Irajá
Me escondi aqui em Copa
Meu nome é Kátia Flávia
A godiva do Irajá
Me escondi aqui em Copa
Meu nome é Kátia Flávia
A godiva do Irajá
Me escondi aqui em Copa
Meu nome é Kátia Flávia
A godiva do Irajá
Me escondi aqui em Copa
FUI!
[Sai de dentro da viatura, em frente à delegacia, de biquini, carregando uma mala vermelha.]
[Em algum lugar na rua, a uma quadra da praia, KÁTIA encontra um rapaz e lhe entrega a mala.]
Guarda muito bem, que isso vai pagar teu salário pro ano todo! E nada de graça com essa mala! Eu sei exatamente quanto tem aí dentro. [Pausa.] Tá esperando o quê, criatura!? Vaza daqui! [O rapaz sai, apressado.] Essa eu vi! [Olha pra praia.]

[Na praia, ALESSANDRO está sentado, observando o mar. KÁTIA senta-se ao seu lado.]

ALESSANDRO:
O dia tava muito bom pra ser verdade...

KÁTIA:
Aproveitando o sol de verão, ou só mais um dia de desocupado?

ALESSANDRO:
O que você quer, Flávia?

KÁTIA:
Você.

ALESSANDRO:
Há! Espera no caixão, porque nem morto você vai me ter!

KATIA:
Por que essa hostilidade toda contra mim, Sandrinho?

ALESSANDRO:
Sandrinho o cacete! Pra você é Alessandro, e olhe lá!

KÁTIA:
Eu só queria saber por quê você é a única pessoa no Pau da Bandeira que não gosta de mim! Eu trato todo mundo tão bem, sou madrinha de todos os bebês de lá...

ALESSANDRO:
Coitadas dessas crianças! E tu sabe muito bem o que eu tenho contra você!

KÁTIA:
Bobagem! Puro preconceito! Eu sou gente como qualquer pessoa.

ALESSANDRO:
Não, não é não! Você é uma traficante assassina que vive da fraqueza dos burgueses e da exploração da situação miserável do Pau da Bandeira. E eu só tenho pena daquela gente infeliz porque eles são todos ignorantes! Se não fossem, seriam gente como tu, que é gente da pior espécie!

KÁTIA:
[Sorrindo.] Ai, que assim você me estilhaça o coração! [Ri.] Mas, eu vim falar contigo não foi pra ficar te secando não, tá! Pelo menos dessa vez. [ALESSANDRO olha pra ela com rancor.] Eu vim tratar de negócios!

ALESSANDRO:
Mas se toca, né, ô Flávia! Eu nunca vou ter negócios contigo!

KÁTIA:
Eu vou construir um teatro no Pau da Bandeira. Eu quero que a galera tenha acesso a cultura, sabe? Música, dança, teatro, arte... Um espaço pra rolar umas aulas, uns eventos, exposições, peças, shows, e preciso de alguém confiável pra cuidar-

ALESSANDRO:
Pode esquecer, Flávia! Eu morro na miséria, mas não trabalho pra ti!

KÁTIA:
E vai mesmo! Você acha que vai conseguir realizar seus devaneios de estrela da Brodway sem ajuda da comunidade? Acorda, meu amor! Você é um favelado que não tem onde cair morto, e vai cair sonhando com o próprio sonho. O único caminho que você tem pra mudar esse fato sou eu! [Pausa.] Eu vou dar um mergulho. Você vem comigo?

ALESSANDRO:
Claro que não! [KÁTIA se levanta.] Ah! Aproveita e morre afogada, tá!? [KÁTIA vai pro mar, com um sorriso irônico no rosto.] Abusada! [Toca “The Phantom of the Opera” no telefone. Atendendo.] Alô?

CHICO:
[Na delegacia.] Alô? Alessandro?

ALESSANDRO:
[Na praia.] Chico?

CHICO:
[Na delegacia.] É, escuta, você pode vir me buscar?

ALESSANDRO:
[Na praia.] Claro, cara! Eu achei que tu ia chegar ontem.

CHICO:
[Na delegacia.] E cheguei! Mas teve uma confusão na rodoviária, alguém trocou minha mala por uma mala cheia de droga e eu vim parar na delegacia.

ALESSANDRO:
[Na praia.] O quê? Mas por que você não me ligou?

CHICO:
[Na delegacia.] Porque seu telefone estava na minha mala, que só apareceu hoje. Você pode vir aqui na delegacia me buscar?

ALESSANDRO:
[Na praia.] Claro. Eu estou perto, já chego aí.

[Na delegacia, CHICO está sentado num conjunto de cadeiras ao lado da porta de saída. ALESSANDRO entra, ainda de sunga, com uma mochila nas costas.]

CHICO:
Ai, graças a Deus! [Levanta.] Eu quero sair logo daqui.

ALESSANDRO:
Sim, você aproveita pra me contar direito essa história no caminho.

CHICO:
Cara, tem problema fazer uma chamada interurbana do seu telefone?

ALESSANDRO:
Acho que não. Por quê?

CHICO:
Porque, como eu não tinha seu telefone, e eu tinha que avisar alguém que tava preso, eu liguei pro armazém do meu irmão, lá em minas, e agora eu preciso avisar que está tudo bem-

ZÉ:
Não precisa mais!

CHICO:
Zé?

ZÉ:
Sou eu mesmo, Chico!

CHICO:
[Abraçando ZÉ.] Mas o que você está fazendo aqui, homem!?

ZÉ:
Eu vim dar um jeito de te tirar da cadeia, né, ô Pedro Bó! Como foi que você saiu?

CHICO:
Ih! Isso é uma história bem comprida!

ALESSANDRO:
Ele ia me contar no caminho. Aproveita e conta pra tu também.

CHICO:
Ah, desculpa. Eu acho que fiquei emocionado demais com sua aparição tão repentina! Er... Alessandro, esse é meu irmão, José. Zé, esse é o Alessandro.

ZÉ:
[Apertando a mão de ALESSANDRO.] Prazer.

ALESSANDRO:
Prazer meu! E aí, que tá achando da cidade?

ZÉ:
Eu ainda não vi a cidade?

[Som de guitarra.]

CHICO:
Como assim, não viu? Você veio da rodoviária até aqui-

ZÉ:
Num ônibus escuro e fechado, totalmente preocupado com meu irmão na cadeia!

ALESSANDRO:
Ah! Mas então a gente vai ter que te apresentar a cidade!

CHICO:
Não podia ter guia melhor. O Alessandro conhece a cidade inteira!

ZÉ:
Não sei por que essa empolgação. Aposto que é uma cidade como qualquer outra!

ALESSANDRO:
Ah, mas não é não, meu amigo. Essa cidade é terrível e maravilhosa!

CHICO:
É incrível!

ZÉ:
E o que pode ter demais?

ALESSANDRO:
Há!
Lá fora, todos os corações procuram a sua órbita!
Novas propostas pro mundo, novos encaixes pras coisas que ainda não estão no lugar.

CHICO:
Atento às diversidades, em busca da chacrete espacial, é preciso provar das loucuras, ativar novas possibilidades.

ALESSANDRO:
De volta ao planeta dos macacos!

[Saem da delegacia e começam a circular pela cidade.]

CHICO e ALESSANDRO:
Nana na banana
Nana nana nana na banana!
Nana na banana
Nana nana nana na banana!

ALESSANDRO:
Rio
Rio de Janeiro
Cortado por montanhas, mar e desespero
Rio
Rio de Janeiro
Cortado por montanhas, mar e desespero
Cortado por favelas
Balas
Fuzileiros
Fuzileiros suicidas
Dominantes das alturas
Guerrilheiros capitais
Guerrilheiros capitais

CHICO e ALESSANDRO:
Nana na banana
Nana nana nana na banana!
Nana na banana
Nana nana nana na banana!

CHICO:
Rio
Rio de Janeiro
Cortado por montanhas
Mar gentil maneiro
Rio
Rio de Janeiro
Cortado por montanhas
Mar gentil maneiro
Premiado pelo mundo
Simpatia tá na cara
Do turista enlouquecido
Na beleza guanabara
Premiado pelo mundo
Simpatia tá na cara
Do turista enlouquecido
Na beleza guanabara
Premiado pelo mundo
Simpatia tá na cara
Do turista enlouquecido
Na beleza guanabara
Premiado pelo mundo
Simpatia tá na cara
Do turista enlouquecido
Na beleza guanabara

CHICO e ALESSANDRO:
Nana na banana
Nana nana nana na banana!
Nana na banana
Nana nana nana na banana!

ALESSANDRO:
Formado um apartheid social
Que provoca o vazio preenchido pela droga
Na sociedade que explora o consumo
Além do cidadão
Metropolitano brasileiro
Que madruga sem dinheiro
Carioca de origem
Trabalha no sinal mas não metralha
Trabalha no sinal mas não metralha

CHICO e ALESSANDRO:
Nana na banana
Nana nana nana na banana!
Nana na banana
Nana nana nana na banana!

CHICO:
Macacada reunida
Rapazeada sambando
Xingando
Rodando na pista
Macacada reunida
Galera pelejando e dançando
Procurando uma saída

CHICO e ALESSANDRO:
É
Você não tá sabendo não?
Agora é lei: "Cada macaco no seu galho"
Nana na banana
Nana nana nana na banana!
Nana na banana
Nana nana nana na banana!

CORO:
I love . I love. I love, I love you
I love . I love. I love, I love you
I love . I love. I love, I love you
I love . I love. I love, I love you

ZÉ:
Rio de Janeiro
Gosto de você
Rio de Janeiro
Gosto de você
Rio de Janeiro

CHICO:
Macacada reunida

ZÉ:
Gosto de você

ALESSANDRO:
E tá faltando emprego no planeta dos macacos

ZÉ:
Rio de Janeiro

CHICO:
Rodando na pista

ZÉ:
Gosto de você

ALESSANDRO:
E tá faltando emprego no planeta dos macacos

ZÉ:
Rio de Janeiro

CHICO:
Macacada reunida

ZÉ:
Gosto de você

ALESSANDRO:
E tá faltando emprego no planeta dos macacos

ZÉ:
Rio de Janeiro

CHICO:
Procurando uma saída

ZÉ:
Gosto de você

ALESSANDRO:
E tá faltando emprego no planeta dos macacos

ZÉ:
Rio de Janeiro

CHICO:
Nana na banana

ZÉ:
Gosto de você

ALESSANDRO:
E tá faltando emprego no planeta dos macacos

ZÉ:
Rio de Janeiro

CHICO:
Nana nana nana na banana

ZÉ:
Gosto de você

ALESSANDRO:
E tá faltando emprego no planeta dos macacos

ZÉ:
Rio de Janeiro

CHICO e ALESSANDRO:
Nana na banana

ZÉ:
Gosto de você

CHICO e ALESSANDRO:
Nana nana nana na banana

ZÉ:
Rio de Janeiro

CHICO e ALESSANDRO:
Nana na banana

ZÉ:
Gosto de você

CHICO e ALESSANDRO:
Nana nana nana na banana

ZÉ, CHICO e ALESSANDRO:
Nana na banana
Nana nana nana na banana
Nana na banana
Nana nana nana na banana

[Casa de ALESSANDRO. No quarto, uma cama de solteiro, sofá duplo, televisão e DVD, uma janela na frente e duas portas ao fundo: uma pra cozinha e outra pro banheiro.]

ALESSANDRO:
Não reparem. Meu barraco é bem simples, mas é meu! Só Deus sabe quantas bandejas tive que servir pra comprar meu cantinho.

CHICO:
Nada! A gente já tá acostumado, né, Zé?

ZÉ:
É sim. Eu morava num quartinho atrás do armazém-

CHICO:
Morava por quê?

ZÉ:
Porque eu já queria mesmo sair daquele buraco, e agora que eu conheci a cidade, eu não largo mais dela!

CHICO:
Olha o Zé, apaixonado pela cidade!

ZÉ:
Até já esqueci a Maria!

CHICO:
Você se separou mesmo da Escandalosa?

ZÉ:
Sabia que eu detesto quando vocês chamam a Maria assim?! Sim, me separei. E a cretina fez o favor de abrir o próprio armazém e surrupiar todos os clientes do meu armazém!

ALESSANDRO:
Bem, quem sabe aqui você não encontra alguém melhor, não é?

ZÉ:
Não sei. Duvido que haja alguém pra substituir a Maria.

[Casa de MADALENA. MADALENA está no tanque, lavando roupa, o cabelo preso em rabo de cavalo.]

CORO:
Ensaboa, mulata, ensaboa
Ensaboa

MADALENA
Tô ensaboando
Tô lavando a minha roupa
Lá na rua já tão me chamando
Ensaboa, mulata, ensaboa
Ensaboa, tô ensaboando
Muito lençol pra lavar
Inda fica faltando uma saia
Se o sabão acabar
Eu quero é ir pra beira da praia
Ver a espuma brilhar
Ouvir o barulho bravio
Das ondas que batem na beira do mar

CORO:
Ensaboa, mulata, ensaboa
Ensaboa

MADALENA:
Tô ensaboando
Ainda vou deixar de lado
Aquela velha história
O verso usado
O canto antigo
Vou dizer adeus
Fazer de tudo e todos mera lembrança
Deixar de ser só esperança
E por minhas mãos, lutando, me superar
[Estendendo a roupa lavada.]
Vou rasgar no tempo meu próprio caminho
E assim abrir meu peito ao vento
Me libertar
De ser somente aquilo que se espera
Em forma, jeito, luz e cor

CORO:
Ensaboa, mulata, ensaboa
Ensaboa

MADALENA:
Tô ensaboando

HELENA:
Tudo bem, mãe?

MADALENA:
Só um pouco cansada. Nada sério, filha!

HELENA:
Eu tenho que levar a encomenda do Sandro. Já tá pronto?

MADALENA:
Tá em cima do fogão, menina! Você nem procurou, né?

HELENA:
É que essa casa tá uma zona hoje! Por isso achei que você não estivesse bem...

MADALENA:
Isso porque tu não ajuda, né, sua folgada?

HELENA:
Bom, tou indo. [Sai e volta.] Ah! Não esquece que hoje você tem diária na casa do Dr. Pierre!

MADALENA:
Ai, Jesus! É verdade! E ele fica uma fera com qualquer minuto de atraso. [Soltando o cabelo.] Obrigada, filha. [HELENA sai.] Melhor tomar logo esse banho, que eu já tô em cima da hora!

[Mansão de PIERRE. O jardineiro cuida das moitas. ALICE sai, sorrateira, pela porta da cozinha, e vai até o jardineiro.]

ALICE:
O patrão acordou cismado hoje.

JARDINEIRO:
Como assim?

ALICE:
Vamos dizer que se ele te perguntar o que você está fazendo você não deve responder “acho que estou aparando os galhos”.

JARDINEIRO:
Ah! Cismado.

ALICE:
Eu já avisei pra todo mundo! O homem tá tendo ataques de desconfiança com tudo que vê pela frente. Não duvido ele achar que o pão tá mofado na hora do café!

JARDINEIRO:
Pra mim não vai fazer diferença. Eu vou me mandar daqui mesmo!

ALICE:
Mas, por quê?

JARDINEIRO:
Quem é que aguenta um patrão assim, Alice?

ALICE:
Eu!

JARDINEIRO:
Não sei como você consegue...

ALICE:
Ah! Mas ele é lindo!

JARDINEIRO:
Alice, o cara é viado!

ALICE:
Ah! Mas ele é LINDO!

JARDINEIRO:
É. Você vai passar o resto dos teus dias nessa vidinha-

ALICE:
Você não fala da minha vidinha, que ela é muito boa, tá! Eu não tenho culpa se não sou como você e me contento com o que eu tenho.

JARDINEIRO:
Não tá mais aqui quem falou.

PIERRE:
[Grita de dentro da mansão.] ALICEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!

JARDINEIRO:
É melhor correr!

[Closet de PIERRE. Ele está em frente a um conjunto de gravatas, segurando uma gravata púrpura com riscas brancas. ALICE entra.]

ALICE:
Sim, senhor?

PIERRE:
O que esta gravata está fazendo aqui?

ALICE:
Er... Senhor, este é o armário de gravatas.

PIERRE:
Eu sei disso, sua tonta! Só que eu usei essa gravata ontem, e ela deveria estar na lavanderia!

ALICE:
Desculpe, senhor, mas não foi esta a gravata que o senhor usou ontem.

PIERRE:
Alice, eu me recordo-

[ALICE faz um sinal com a mão e PIERRE fica estático. ALICE pega seu celular, que está escondido dentro do uniforme, mexe em alguns botões e mostra o visor a PIERRE.]

ALICE:
ESTA é a gravata que o senhor usou ontem, púrpura com bolinhas brancas, que já está devidamente separada na lavanderia. [Sorrindo.] Eu mesma separei!

PIERRE:
Ah! Claro. Me desculpe então. [Guarda a gravata e começa a procurar por outra.]

ALICE:
Uma azul com detalhes amarelos vai ficar bem com o paletó cinza.

PIERRE:
Sim, eu sei, obrigado. A senhorita não tem outros afazeres?!

ALICE:
Não. Agora só quando o senhor terminar de bagunçar!

PIERRE:
A senhorita está ficando muito petulante, dona Alice!

ALICE:
O senhor perguntou, eu respondi. Se sinceridade é petulância, então eu sou muito petulante!

PIERRE:
As faxineiras já chegaram?

ALICE:
Seu Pierre, ainda faltam duas horas pra hora marcada! O senhor acorda cedo, cismado com tudo, esquece que o mundo não gira às suas ordens, e depois eu sou a petulante!

PIERRE:
Alice, vai arranjar algo pra fazer, vai!’

ALICE:
Vou ver como está o café da manhã. E o senhor espere a hora de descer pra não atrapalhar os serviços da casa! Ninguém mandou acordar cedo assim! [Se dirige à porta para sair.]

PIERRE:
Mais uma coisa.

ALICE:
[Para na porta e vira.] Sim?

PIERRE:
O que você achou?

ALICE:
Bom, o senhor sabe, eu acho que não tem homem no mundo mais bonito que o senhor, mas, desconsiderando esse detalhe, até que dá pro gasto!

PIERRE:
Eu preciso de mais que dar pro gasto.

ALICE:
Eu já te disse: se o senhor quer homem BONITO, passa lá na favela que lá tem. E muito mais bonitos que esses almofadinhas que o senhor arranja, de beleza comprada, viu!

PIERRE:
DEUS ME LIVRE! Já foi um êxito encontrar um de vocês que tem algum senso de classe. Eu preciso de gente de verdade, não essas pessoinhas sem cultura, sem senso estético, sem opinião política, e o principal: sem experiência de luxo! Porque essa gentinha pode até manter bem a pose, mas é só ficar deslumbrado que desmonta e cai na avacalhação! Eu prefiro contratar um michê, ou melhor, um ator! Pelo menos eu não passo por constrangimentos. E nem adianta me olhar assim! Conhece perfeitamente bem minha opinião.

ALICE:
Não custa tentar, né? Com licença, vou me unir à gentinha. [Sai.]

PIERRE:
Imagina! Eu, com um favelado!
[Vai até espelho.]
Tem certos dias
Em que eu penso em nessa gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
Porque parece
Que acontece de repente
Como um desejo de eu viver
Sem me notar
Igual a tudo
Quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem
Até olhar para o lugar
E aí me dá
Como um nojo dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar
São casas simples
Com cadeiras na calçada
E na fachada
Escrito em cima que é um lar
Lar!
Pela varanda
Flores tristes e baldias
Como a alegria
Que não tem onde encostar
E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De viver neste lugar
E eu que não creio
Peço a Deus, me leve embora!
Desse Brasil
Que vontade de chorar

ALICE:
[Circulando pela casa, inspecionando os cômodos.]
São casas simples
Com cadeiras na calçada
E na fachada
Escrito em cima que é um lar
Pela varanda
Flores tristes e baldias
Como a alegria
Que não tem onde encostar
E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar

[Na cozinha, as duas cozinheiras estão arrumando bandejas para o café da manhã. MADALENA aguarda, sentada à mesa. ALICE entra, distraída, e atravessa a cozinha até a porta do quintal.]

MADALENA:
Eu vou precisar do uniforme!

ALICE:
Madalena! Por que tão cedo?

MADALENA:
O trânsito dessa cidade, nunca se sabe... E o patrão não perdoa atrasos, não é mesmo?

ALICE:
É sim. Espera só um pouco que eu já trago seu uniforme. [Para as cozinheiras.] É melhor vocês se apressarem, que eu acho que ele vai descer mais cedo! [Pega uma maçã na fruteira, vai até a pia e lava a fruta. Senta-se ao lado de MADALENA e começa a comer a maçã.] E a Helena, como é que tá?

MADALENA:
Tá ótima. Hoje tá feliz da vida que foi entregar marmita por Sandro!

[Casa de ALESSANDRO. Helena, sentada no sofá, olhando curiosa para ZÉ. ALESSANDRO está na cozinha.]

ALESSANDRO:
Quer dizer que destrocaram a mala na própria delegacia?!

CHICO:
[Voz, do banheiro.] Pois é. Foi a situação mais estranha que já aconteceu comigo!

ALESSANDRO:
[Indo pra sala.] Pra mim nem tanto. [Senta na cama.] Eu até faço idéia de quem fez isso.

ZÉ e HELENA:
Quem?

ALESSANDRO:
Kátia Flávia.

CHICO:
[Voz, do banheiro.] A godiva do Irajá?

ALESSANDRO:
Você já sabe quem é?

CHICO:
[Voz, do banheiro.] Ela tava no programa do rádio da polícia.

ALESSANDRO:
É. Ela faz isso, às vezes.

HELENA:
Mas dona Kátia não ia fazer uma coisa dessas.

ALESSANDRO:
Deixa de ser besta, Helena! Você sabe muito bem quem é “dona Kátia”!

ZÉ:
Quem é “dona Kátia”?

ALESSANDRO:
Uma das maiores traficantes de cocaína da cidade, além de outras drogas menores. Até remédio controlado a mulher trafica. Ah! E líder da comunidade do Pau da Bandeira!

HELENA:
E ótima líder. Ela mudou o morro. Pra melhor.
ZÉ:
Pra melhor ou não, é melhor essa mulher não aparecer na minha frente, ou eu não respondo por mim.

KÁTIA:
[Entrando, como dona da casa.] Ah, Sandro! Sabia que ia te encontrar aqui. [Olha pra ZÉ e HELENA.] E com visitas! Quem são?

ALESSANDRO:
Eu já disse que não quero você na minha casa!

KÁTIA:
Ah, Sandrinho. Não seja mau comigo, vá!

ALESSANDRO:
SANDRINHO É O CACETE!

KÁTIA:
Ei! Tem criança no recinto.

ZÉ:
É, criatura. Se acalme! [Para KÁTIA.] E a senhorita, quem é?

ALESSANDRO:
Essa, Zé, é Kátia Flávia!

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Músicas:
Armazém - Ana Carolina
Romaria - Renato Teixeira
Estrada Branca -Tom Jobim e Vinicius de Moraes
Kátia Flávia, a Godiva do Irajá - Carlos Laufer e Fausto Fawcett
De Volta ao Planeta dos Macacos - Marco Túlio, PJ e Rogério Flausino
Rio de Janeiro - Anderson Lugão
Ensaboa - Cartola
Lavadeira do Rio - Lenine
Mundo Novo, Vida Nova - Gonzaguinha
Gente Humilde - Garoto, Chico Buarque e Vinicius de Moraes