31 de mar. de 2010

Discursos sensacionalistas

A humanidade não aprende a viver em paz? A humaninade sabe viver em paz, mas não quer. As pessoas ficam inventando silogismos, como donas da verdade, e entre se isso e se aquilo seguem escondendo-se de si próprias. Essa história de pedófilos serem monstros só porque sentem tesão por crianças, por exemplo. Hoje em dia um homem de dezoito não pode seduzir um rapaz de 17 que já é criminoso, pode ser processado e o escambau. Virou zona. A indústria de rótulos não para de crescer. E é só ganhar um rótulo que automaticamente a pessoa fica limitada às possibilidades do rótulo que lhe foi atribuído. Aí os coitados dos caras que não têm culpa nenhuma de terem nascido com um "distúrbio" sexual pagam o pato. Coitados sim, porque no final da história as vítimas acabam sendo eles, que são caçados como assassinos para serem condenados, quando tudo que precisam é de compreensão e ajuda. Mas a humanidade não quer viver em paz. É muito mais fácil culpar uma pessoa por um "erro" que assumir sua própria parcela de responsabilidade. E é muito desconfortável ver as coisas pela ótica do "monstro". Então condenemos todos os "monstros" que estão amaldiçoados a viver agindo abominavelmente, para que nós, os seres protegidos pelas leis dos "fracos", possamos seguir adiante, em paz, com as nossas vidas. É, mas a humanidade não quer viver em paz. E, enquanto damos passe livre a pessoas totalmente estranhas a nós e nosso caráter para decidir nossa vida e nosso futuro, enquanto assistimos passivos às degradações política, social, econômica, cultural e filosófica das comunidades onde vivemos, pessoas não podem escolher pentear ou não o cabelo por serem crianças, pessoas não podem ter uma segunda chance por serem criminosos, pessoas não podem deixar de dar pinta por serem homossexuais, pessoas não podem ser mais fortes por serem mulheres, ou mais fracas por serem homens, pessoas não podem viver sem assistência (um nome gentil para intromissão e controle) por serem idosos, pessoas não podem ser "boas da cabeça" por serem viciadas em narcóticos, pessoas não podem deixar de beber por serem alcoolátras, pessoas não podem ser direitas por serem prostitutas, pessoas não podem ser levadas a sério por não conhecer ou aplicar "corretamente" o vocábulário e as regras gramaticais... E a lista se estende... E as pessoas continuam suas vidas em paz... Mas a humanidade não que viver em paz...

30 de mar. de 2010

Adoção




[Benedita entra trazendo três pratos e talheres. Ela deixa os talheres escorregarem suavemente de cima dos pratos para a mesa. Emborcando um dos pratos sobre a mesa, ela olha para fora, para a outra ponta do palco. Ela parece ansiosa e preocupada. Ela atravessa o palco e grita para a coxia:]

BENEDITA:
Amália, deixa o seu pai em paz! [Ela aguarda alguns segundos e volta para a mesa.] Às vezes eu gostaria que essa menina crescesse logo! [Termina de arrumar a mesa e sai por onde entrou.]

AMÁLIA:
[Entra, sentando no sofá.] Eu só queria saber o que eu estava fazendo mesmo...

BENEDITA:
[Entra, trazendo três copos para a mesa.] Pois eu não quero nem saber! Pela cara do seu pai, coisa boa não era! [Termina de pôr os copos na mesa e sai por onde entrou.]

AMÁLIA:
Mas eu só estava sentada no colo dele!

BENEDITA:
[Entra, trazendo uma travessa.] Amália, se você já era pesada com sete anos, imagine agora com 17! [Põe a travessa no centro da mesa.] Você acha que seu pai é de ferro, é!? Ele não tem mais idade pra ficar te colocando no colo à toa.

AMÁLIA:
[Resmungando.] Até ontem ele não reclamava...

BENEDITA:
Minha filha, você sabe como ele é. [Atravessa a sala e grita para a coxia.] Querido, almoço! [Atravessando o palco.] De qualquer jeito, eu duvido muito que tenha sido só por isso. [Sai por onde entrou.]

AMÁLIA:
Eu também.

JOÃO:
[Atravessando o palco até a mesa.] Levanta daí, menina. O almoço é na mesa.

AMÁLIA:
[Levantando.] É. Eu sei. [Senta à mesa, à esquerda de João.]

[Benedita entra, trazendo uma espátula. Ela serve João e Amália, depois se serve e senta à direita de João. Eles comem silenciosamente por alguns instantes.]

BENEDITA:
Mas que silêncio é esse? Vocês estão sempre tagarelando na mesa...

AMÁLIA:
Bom... O papai não está de muito bom humor hoje, está?

JOÃO:
Você não é mais uma criança, Amália. Pare de se comportar como uma.

AMÁLIA:
Como você sabe que eu não sou mais uma criança?

BENEDITA:
Amália, não provoca seu pai!

AMÁLIA:
Ele é quem resolveu implicar comigo, sem mais nem porquê!

JOÃO:
Cala a boca e come, tá!

AMÁLIA:
[Levantando.] Esquece! [Saindo por onde Benedita entrou.] Vou começar um regime!

BENEDITA:
João, o que está havendo?

JOÃO:
Não sei, Dita.

BENEDITA:
Não? [Eles se encaram por alguns instantes.] Eu vou falar com a menina.

JOÃO:
Ela não é mais menina, Dita.

BENEDITA:
Mas eu acho que ela ainda não sabe disso. [Sai por onde entrou.]

JOÃO:
[Grita:] Eu vou tirar a mesa!

BENEDITA:
[Grita, da coxia:] Tira!

[João levanta, empilha os pratos, põe os talheres sobre eles, e sai por onde Benedita saiu. Segundos depois ele volta e pega a lasanha.]

JOÃO:
[Saindo por onde entrou.] Pra quê essa mulher pôs os copos na mesa?

BENEDITA:
Era pra ser um dia de festa, [Entrando com João.] mas você estava com a cara tão emburrada quando eu te vi na mesa que não quis voltar na cozinha pra pegar o vinho.

JOÃO:
Desculpa, querida. É que essa menina me tirou do sério hoje.

[Mudança na luz: um foco de luz branca sobre o casal.]

BENEDITA:
A gente podia mandar ela pra um convento, na Europa. Acho que ainda dá tempo, o que você acha?

JOÃO:
Sim, essa é uma ótima idéia. Assim eu mando meu problema pra bem longe.

[Mudança na luz: Geral.]

BENEDITA:
Essa menina tem nome, João: Amália. E eu não sei se você se lembra, mas ela é nossa filha!

JOÃO:
É. Disso eu lembro...

BENEDITA:
Hunf! Regime!

JOÃO:
Ela costumava ser mais criativa...

[Mudança na luz: Corredor branco na boca da cena. Amália atravessa o palco.]

AMÁLIA:
Ele me chamou pra ir ao cinema. Eu não sabia que ele ia me levar pra um motel, tá?

[Amália sai. Mudança na luz: Geral.]

BENEDITA:
Ela sempre foi muito difícil.

AMÁLIA:
[Entrando.] Vocês também.

JOÃO:
Vai começar, é?

AMÁLIA:
Eu só quero saber o que foi que eu fiz! Eu não mereço ser destratada assim!

JOÃO:
Bom, é melhor aprender a se comportar direito, ou então ir se acostumando.

AMÁLIA:
Vai me dizer ou não?

JOÃO:
E você quer mesmo saber?

AMÁLIA:
E depois eu que sou difícil!

JOÃO:
O problema é que você cresceu, Amália.

AMÁLIA:
Essa é a melhor desculpa que você tem pra dar?

JOÃO:
Essa é a verdade. [Sai por onde entrou.]

AMÁLIA:
[Gritando para a coxia.] Pois se você acha que eu vou continuar sendo sua menininha, vai quebrar a cara, velho rabugento! Eu não sou mais criança, e não tenho vontade nenhuma de ser!

BENEDITA:
Desculpa, minha filha, mas se você continuar com esse comportamento infantil, vai ficar muito difícil acreditar nisso. [Sai]

AMÁLIA:
[Deitando no sofá.] Então, qual é o problema?

[João entra com uma revista na mão. Ele senta na poltrona e abre a revista. Amália se levanta no sofá.]

JOÃO:
[Lendo a revista.] Você perdeu o jantar.

AMÁLIA:
Sobrou alguma coisa pra comer?

JOÃO:
Eu deixei um prato pronto na geladeira pra você.

[Amália salta do sofá para o colo de João.]

AMÁLIA:
Valeu, pai! [Beija a bochecha de João.]

[Mudança na luz: foco branco sobre João e Amália.]

AMÁLIA:
Nossa, pai! Isso é felicidade por mim, ou foi só pelo beijo?

JOÃO:
[Colocando a revista sobre a mesinha ao lado da poltrona.] Amália, sai do meu colo.

AMÁLIA:
Qual a pressa, pai?

JOÃO:
Amália, isso não tem graça! Sua mãe está em casa!

AMÁLIA:
Sabe, se você ficou assim por causa de um beijo na bochecha... [Beija a boca de João. Ele a abraça e aperta enquanto eles se beijam. Ela põe uma das mãos dentro da calça dele.] Sim, vejo que você está muito preocupado com minha mãe!

JOÃO:
Por quê você faz isso comigo, menina!?

AMÁLIA:
Por que eu não sou mais menina. [Aperta a mão dentro da calça do pai.] Eu sou uma mulher! [Deita-se sobre o colo de João.] Vamos, pegue! Eu sei que você quer!

[Com a mão que está livre, Amália guia as mãos de João. Uma para tocar os seus seios e a outra para baixo da saia, pra entrar na sua calcinha. Ela intensifica a massagem sob a calça de João. Depois de alguns gemidos, João volta a pegar a revista e levanta, enfurecido.]

[Mudança na luz: Geral.]


JOÃO:
Já chega!


AMÁLIA:
[Chorando.] Mas foi só um beijinho à toa! [Benedita entra,
correndo.]

JOÃO:
Você não pode mais continuar com esse comportamento, menina!

AMÁLIA:
[Levantando, furiosa.] Sim! Meu comportamento é infantil demais pra você?

JOÃO:
É sim!

AMÁLIA:
Bom, pois não parece! [Encarando João.] Mas pelo menos agora eu sei qual é o problema de verdade!

JOÃO:
[Senta na poltrona e coloca a revista no colo.] Ótimo. Quem sabe assim as coisas mudam por aqui, não?

AMÁLIA:
[Sai, esbarrando em Benedita.] Idiota!

BENEDITA:
Garota, isso não é jeito de falar com seu pai!

JOÃO:
Deixa, Dita! Ela está certa. Eu sou mesmo um idiota... [Volta a ler a revista.]

[Benedita se aproxima de João, observa-o, e senta-se no sofá. Amália entra com um prato na mão, e senta-se à mesa para jantar. Benedita observa Amália, e fica mudando o olhar entre ela e João.]

BENEDITA:
Sabe, vocês dois estão muito estranhos. O que aconteceu?

JOÃO:
Nada...

BENEDITA:
Se nada aconteceu, qual é o problema então?

[Mudança na luz: foco vermelho sobe João.]

JOÃO:
O problema é que eu sinto tesão pela nossa filha, Dita!

BENEDITA:
Cafajeste!

[Mudança na luz: Geral.]

JOÃO:
Não tem problema nenhum, Dita. As coisas vão se resolver.

[Mudança na luz: Corredor branco na boca da cena. Benedita já deve estar na boca da cena. Ela anda de um lado para o outro do palco, aflita. João entra, choroso.]

JOÃO:
Negativo, Dita. NEGATIVO! [Benedita abraça João.]

BENEDITA:
Acalme-se, meu bem.

JOÃO:
Mas eu queria muito ter um filho...

BENEDITA:
João, você não precisa fazer esse drama todo.

JOÃO:
[Se afasta de Benedita.] Drama!? Eu acabo de descobrir que nunca poderei ter filhos, e você diz que é DRAMA!?

BENEDITA:
E eu quero um filho tanto quanto você, mas não estou preocupada.

JOÃO:
Mas nós tínhamos tantos planos!

BENEDITA:
Eu sei.

JOÃO:
A gente já tinha até escolhido os nomes...

BENEDITA:
Roberto ou Luana. São nomes ótimos, não? [Sorri.]

JOÃO:
Você está sorrindo?

BENEDITA:
E por quê não?

JOÃO:
Mas... Você não está nem aí pra isso, né?

BENEDITA:
Eu não dou a mínima pro fato de você não poder transmitir seus genes a uma pessoa.

JOÃO:
E ainda tem coragem de dizer que queria um filho!

BENEDITA:
Eu quero!

JOÃO:
Ah, é? Pois não parece, não!

BENEDITA:
Mas eu quero sim! Um bebê pra amamentar, alguém além de você pra me tirar a tranqüilidade, que possa dividir sua atenção comigo. Alguém pra quem eu possa transmitir tudo que eu sei, e alguém que possa me manter informada sobre o que há de novo no mundo. E eu asseguro a você que nós vamos conseguir!

JOÃO:
[Irritado.] Eu não sei se você entendeu direito o que eu te disse, mulher! Eu não posso gerar filhos!

BENEDITA:
Eu entendi perfeitamente.

JOÃO:
[Irritado.] E como é que a gente faz então?

BENEDITA:
A gente adota! [João sorri e abraça Benedita.] Não se preocupe, João. As coisas vão se resolver.

[Mudança na luz: B.O.]


[Mudança na luz: Geral. Amália entra, vestindo somente um sutiã e uma calcinha, bem curtinhos, e se deita no sofá, lendo um gibi.]

BENEDITA:
[Da coxia.] Filha, cadê a sua roupa?

AMÁLIA:
Ih, mãe! Tá muito quente!

BENEDITA:
[Da coxia.] Mas, minha filha, e se alguém passa na rua e te vê assim?

AMÁLIA:
A essa hora da noite, só se alguém pular o muro e atravessar o quintal!

BENEDITA:
Você tentou usar uma roupa decente pelo menos?

AMÁLIA:
Claro! Você acha que eu gosto de ficar desfilando seminua por aí?

BENEDITA:
[Rindo da coxia.] Vê se não fica acordada até tarde!

AMÁLIA:
Tá bom.

[Amália lê algumas páginas do gibi. Da coxia, um barulho de copo caindo no chão.]

JOÃO:
[Entrando.] Mas o que é isso? [Amália vira uma página do gibi.] Amália!

AMÁLIA:
O quê?

JOÃO:
O que é isso?

AMÁLIA:
Isso o quê?

JOÃO:
Não se faça de desentendida garota! Isso aí que você está vestindo!

AMÁLIA:
Ué? Você não sabe?

JOÃO:
Eu quero dizer, pra quê você está... vestida assim!?

AMÁLIA:
Pra dormir, ué!

JOÃO:
E isso lá é jeito de uma menina decente dormir?

AMÁLIA:
Pai, é só sutiã e calcinha!

JOÃO:
Por isso mesmo!

AMÁLIA:
Se você não gostou, eu tiro!

JOÃO:
Eu acho muito bom! [Amália larga o gibi no chão, senta no sofá e
tira o sutiã.] O que você está fazendo?

AMÁLIA:
Eu tô tirando, ué!


JOÃO:
Veste isso de volta!


AMÁLIA:
Ué, mas não era pra tirar?


JOÃO:
Não! É pra você ir pro seu quarto pôr um pijama por cima disso!

AMÁLIA:
[Veste o sutiã, pega o gibi no chão e deitando no sofá.] Sinto muito, está muito quente!

JOÃO:
Tá mesmo...

[Mudança na luz: Foco branco sobre João e Amália.]

AMÁLIA:
Se eu fosse você eu fazia a mesma coisa! [Larga o gibi no chão.] A gente podia aproveitar e tirar logo tudo! Aí a gente ia poder brincar um pouquinho, aqui no sofá mesmo! Mamãe não ia nem perceber! [Levanta do sofá e caminha até João.] Você gosta da idéia, não gosta? Nós dois, sem roupa, abraçados naquele sofazinho apertado. Eu gemendo... Dá pra ver nos seus olhos... [Beija a boca de João. Afasta-se de João e deita no sofá.] Vem! Aproveita! [Recolhe o gibi no chão. Mudança na luz: Geral.] Se eu fosse você eu fazia a mesma coisa!

JOÃO:
Hunf! Eu vou relevar dessa vez. [Amália levanta.] Mas é melhor que isso não se torne um hábito.

AMÁLIA:
Não se preocupe. Eu não quero morrer de frio no inverno. [Sai por onde entrou.]

[Mudança na luz: Corredor branco na boca da cena. Uma jovem entra, carregando nos braços um bebê, acompanhada por Benedita.]

BENEDITA:
E você tem certeza que não vai se arrepender?

JOVEM:
E eu lá tenho cara de mãe, Dona?

BENEDITA:
Não...

JOVEM:
Eu detesto crianças! Só não tirei essa por que achei o muito caro o preço daquela clínica de aborto. Se é que dá pra dizer que aquilo lá é clínica!

BENEDITA:
Então! Eu fico com ela!

JOVEM:
Faça bom proveito!

BENEDITA:
E ela já tem nome?

JOVEM:
Eu chamo ela de coisinha. Mas acho que você não vai querer colocar esse nome no registro dela, né, dona?

BENEDITA:
Claro que não!

JOVEM:
Eu tenho que trabalhar, tá, dona! Tchau!

BENEDITA:
Tá bom. A gente se fala.

JOVEM:
Há! A gente nunca mais se fala, dona!

[Benedita e a jovem saem. Mudança na luz: Geral. João sentado na poltrona, lendo um jornal. Benedita entra com uma pilha de roupas e um ferro de passar. Ela põe a pilha sobre uma cadeira, estende um cobertor dobrado sobre a mesa, forra-o com um lençol e põe-se a passar as roupas da pilha.]

AMÁLIA:
[Entrando serelepe.] Mamainhazinhaaaaaaaaa!

BENEDITA:
Fala filhota.

AMÁLIA:
Os pais do Paulo vão passar o final de semana na fazenda, e ele tá sozinho em casa, e ele queria saber se ele pode ficar aqui esse fim de semana...

[Mudança na luz: foco branco sobre Amália e Benedita; foco vermelho sobre João.]

JOÃO E BENEDITA:
Mas é claro que não! Você acha que isso aqui é algum bordel pra você ficar trazendo seus amantes, quando bem entender, pra dar uma trepada, é, garota?

[Mudança na luz: Geral.]

BENEDITA:
Claro que pode, filha!

JOÃO:
E onde ele vai dormir? No sofá?

AMÁLIA:
Não, no meu quarto, né? Você acha que eu vou deixar meu NAMORADO dormir nesse sofá de marido rejeitado? [Sai.]

JOÃO:
Que idéia de jerico foi essa, Dita?

BENEDITA:
Não se engane, João! Com certeza era isso ou eles fazerem a farra na casa vazia!

JOÃO:
Claro que não! Vai dar esse acesso livre assim...

BENEDITA:
[Largando o ferro.] Vem cá, João? Você vai querer acorrentar a garota agora?

JOÃO:
Não! Mas eu sei muito bem o que essas crianças pensam nessa idade!

BENEDITA:
E você foi muito diferente né?

JOÃO:
Eu tinha o controle dos meus pais!

BENEDITA:
[Voltando a passar roupa.] E pelo visto, adiantou muito!

JOÃO:
Será que tem correntes nos classificados?

BENEDITA:
Pois sabe o que eu vou fazer? [Larga o ferro.] Eu vou falar pra ela ir pra lá, passar o fim de semana com ele! E pra aproveitar e convidar uns amigos também! Quem sabe eles não fazem uma suruba das boas?

JOÃO:
Quer parar com isso, Dita?

BENEDITA:
É sério! [Se aproximando de João.] Vai ser bom ter um fim de
semana, só nós dois, não vai?

JOÃO:
[Saindo de trás do jornal.] É. Que ótima idéia, meu amor!


BENEDITA:
Eu vou falar com ela agora então! [Beija João, recolhe a roupa e o ferro e sai. Mudança na luz: B.O.]


[Mudança na luz: Geral. João deitado no sofá. Benedita entra e
senta-se ao lado dele.]

JOÃO:
Ela já foi?

BENEDITA:
Definitivamente sim! [Instantaneamente João se levanta e agarra Benedita. Depois de alguns segundos enroscados:] Isso tudo só por que está sozinho comigo em casa?

JOÃO:
E por quê mais seria? [Voltam a se agarrar. Entre muitas mãos bobas e chupões em lugares inusitados, eles vão tirando as roupas e saindo. Sons de objetos caindo. Sons de cama rangendo, mais tarde acrescidos de vários gemidos e gritos de êxtase. Depois de alguns minutos de fornicação e palavras chulas, grita:] AH! AMÁLIA! [Longo silêncio. Benedita entra na sala, se vestindo. João entra logo em seguida, também se vestindo.] Dita, desculpa. Eu...

BENEDITA:
Você vai ter que arranjar algo melhor que desculpa, João.

JOÃO:
Eu sei. É que, eu não sei explicar bem...

BENEDITA:
É claro que não sabe explicar! É nossa filha! Como é que você explica isso? [Grita:] NOSSA FILHA JOÃO! NOSSA CRIANÇA!

JOÃO:
[Grita:] Eu sei, Dita! É só que... [Baixa o tom de voz, derrotado.] Bem... Ela não é mais uma criança...

BENEDITA:
Ah, eu entendo. E você agora quer me trocar por NOSSA FILHA, não?

JOÃO:
NÃO! BENEDITA, CLARO QUE NÃO!

BENEDITA:
Não foi o que pareceu lá dentro!

JOÃO:
Benedita, eu nunca te trocaria por ninguém! [Força Benedita a olhar nos olhos dele.] EU TE AMO!

BENEDITA:
Então o quê, João?

JOÃO:
Eu acho... é só tesão! Isso passa, não passa? Quer dizer, eu amo minha filha, mas não existe paixão, entende?

BENEDITA:
Não, eu não entendo!

JOÃO:
O que eu estou tentando dizer, mulher, é que isso vai passar! Não é nada sério!

BENEDITA:
AH, E ME CONFUNDIR COM SUA FILHA ENQUANTO VOCÊ ME FODE TAMBÉM NÃO É NADA SÉRIO!

JOÃO:
Não, não é!

BENEDITA:
Ótimo! Já que é assim, você hoje vai dormir no sofá de marido rejeitado!

JOÃO:
Tudo bem. Eu durmo. Se você vai continuar ao meu lado, eu durmo até na grama do jardim.

BENEDITA:
Não seja ridículo, criatura!

JOÃO:
Como, se você está sendo ridícula comigo? Eu tou com um problemão, precisando de você pra passar por isso, da sua ajuda, e você me manda dormir no sofá, mulher?

BENEDITA:
Agora é problemão? A menos de um minuto nem sério era!

JOÃO:
E não é! Mas isso não diminui o problema diminui? Ela é nossa filha!

BENEDITA:
Você devia ter me contado...

JOÃO:
Agora que não adiantou ter evitado esse circo, devia mesmo!

BENEDITA:
E então? O que a gente faz?

JOÃO:
Eu não sei! Eu ando muito confuso com isso?

BENEDITA:
Quer que eu tranque os dois no quarto até o tesão ir embora?

JOÃO:
Quer parar de ser ridícula?

BENEDITA:
Desculpa, eu ainda estou com muita raiva!

JOÃO:
Eu vou ter que explicar tudo de novo?

BENEDITA:
Não perde seu tempo! Não existe mulher no mundo que goste de ser chamada pelo nome de outra na cama...

JOÃO:
Você vai me ajudar?

BENEDITA:
CLARO! Foi pra isso que eu me casei contigo, não? Até que a morte nos separe?

[Eles se encaram por alguns segundos, se abraçam e se beijam. Depois de alguns segundos se agarrando, João começa a tirar a roupa de Benedita, mas é interrompido por uma das mãos dela.]

JOÃO:
Eu juro que fico calado!

BENEDITA:
Eu acho que não vai precisar.

[João continua tirando a roupa de Benedita. Mudança na luz: B.O.]

BENEDITA:
[Voz.] E o nome?

JOÃO:
[Voz.] Amália!

BENEDITA:
[Voz.] Mas Amália tem MAL no meio do nome!

JOÃO:
[Voz.] Não seja negativa, Dita. Vai até parecer ridículo, mas é Amália porque nós iremos amá-la muito!

BENEDITA:
[Voz.] É ridículo mesmo, mas é verdade! Nós iremos.

JOÃO E BENEDITA:
[Voz.] Nós iremos amá-la demais.

[FIM]

24 de mar. de 2010

...




Nada a dizZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzZzer...