30 de mar. de 2010

Adoção




[Benedita entra trazendo três pratos e talheres. Ela deixa os talheres escorregarem suavemente de cima dos pratos para a mesa. Emborcando um dos pratos sobre a mesa, ela olha para fora, para a outra ponta do palco. Ela parece ansiosa e preocupada. Ela atravessa o palco e grita para a coxia:]

BENEDITA:
Amália, deixa o seu pai em paz! [Ela aguarda alguns segundos e volta para a mesa.] Às vezes eu gostaria que essa menina crescesse logo! [Termina de arrumar a mesa e sai por onde entrou.]

AMÁLIA:
[Entra, sentando no sofá.] Eu só queria saber o que eu estava fazendo mesmo...

BENEDITA:
[Entra, trazendo três copos para a mesa.] Pois eu não quero nem saber! Pela cara do seu pai, coisa boa não era! [Termina de pôr os copos na mesa e sai por onde entrou.]

AMÁLIA:
Mas eu só estava sentada no colo dele!

BENEDITA:
[Entra, trazendo uma travessa.] Amália, se você já era pesada com sete anos, imagine agora com 17! [Põe a travessa no centro da mesa.] Você acha que seu pai é de ferro, é!? Ele não tem mais idade pra ficar te colocando no colo à toa.

AMÁLIA:
[Resmungando.] Até ontem ele não reclamava...

BENEDITA:
Minha filha, você sabe como ele é. [Atravessa a sala e grita para a coxia.] Querido, almoço! [Atravessando o palco.] De qualquer jeito, eu duvido muito que tenha sido só por isso. [Sai por onde entrou.]

AMÁLIA:
Eu também.

JOÃO:
[Atravessando o palco até a mesa.] Levanta daí, menina. O almoço é na mesa.

AMÁLIA:
[Levantando.] É. Eu sei. [Senta à mesa, à esquerda de João.]

[Benedita entra, trazendo uma espátula. Ela serve João e Amália, depois se serve e senta à direita de João. Eles comem silenciosamente por alguns instantes.]

BENEDITA:
Mas que silêncio é esse? Vocês estão sempre tagarelando na mesa...

AMÁLIA:
Bom... O papai não está de muito bom humor hoje, está?

JOÃO:
Você não é mais uma criança, Amália. Pare de se comportar como uma.

AMÁLIA:
Como você sabe que eu não sou mais uma criança?

BENEDITA:
Amália, não provoca seu pai!

AMÁLIA:
Ele é quem resolveu implicar comigo, sem mais nem porquê!

JOÃO:
Cala a boca e come, tá!

AMÁLIA:
[Levantando.] Esquece! [Saindo por onde Benedita entrou.] Vou começar um regime!

BENEDITA:
João, o que está havendo?

JOÃO:
Não sei, Dita.

BENEDITA:
Não? [Eles se encaram por alguns instantes.] Eu vou falar com a menina.

JOÃO:
Ela não é mais menina, Dita.

BENEDITA:
Mas eu acho que ela ainda não sabe disso. [Sai por onde entrou.]

JOÃO:
[Grita:] Eu vou tirar a mesa!

BENEDITA:
[Grita, da coxia:] Tira!

[João levanta, empilha os pratos, põe os talheres sobre eles, e sai por onde Benedita saiu. Segundos depois ele volta e pega a lasanha.]

JOÃO:
[Saindo por onde entrou.] Pra quê essa mulher pôs os copos na mesa?

BENEDITA:
Era pra ser um dia de festa, [Entrando com João.] mas você estava com a cara tão emburrada quando eu te vi na mesa que não quis voltar na cozinha pra pegar o vinho.

JOÃO:
Desculpa, querida. É que essa menina me tirou do sério hoje.

[Mudança na luz: um foco de luz branca sobre o casal.]

BENEDITA:
A gente podia mandar ela pra um convento, na Europa. Acho que ainda dá tempo, o que você acha?

JOÃO:
Sim, essa é uma ótima idéia. Assim eu mando meu problema pra bem longe.

[Mudança na luz: Geral.]

BENEDITA:
Essa menina tem nome, João: Amália. E eu não sei se você se lembra, mas ela é nossa filha!

JOÃO:
É. Disso eu lembro...

BENEDITA:
Hunf! Regime!

JOÃO:
Ela costumava ser mais criativa...

[Mudança na luz: Corredor branco na boca da cena. Amália atravessa o palco.]

AMÁLIA:
Ele me chamou pra ir ao cinema. Eu não sabia que ele ia me levar pra um motel, tá?

[Amália sai. Mudança na luz: Geral.]

BENEDITA:
Ela sempre foi muito difícil.

AMÁLIA:
[Entrando.] Vocês também.

JOÃO:
Vai começar, é?

AMÁLIA:
Eu só quero saber o que foi que eu fiz! Eu não mereço ser destratada assim!

JOÃO:
Bom, é melhor aprender a se comportar direito, ou então ir se acostumando.

AMÁLIA:
Vai me dizer ou não?

JOÃO:
E você quer mesmo saber?

AMÁLIA:
E depois eu que sou difícil!

JOÃO:
O problema é que você cresceu, Amália.

AMÁLIA:
Essa é a melhor desculpa que você tem pra dar?

JOÃO:
Essa é a verdade. [Sai por onde entrou.]

AMÁLIA:
[Gritando para a coxia.] Pois se você acha que eu vou continuar sendo sua menininha, vai quebrar a cara, velho rabugento! Eu não sou mais criança, e não tenho vontade nenhuma de ser!

BENEDITA:
Desculpa, minha filha, mas se você continuar com esse comportamento infantil, vai ficar muito difícil acreditar nisso. [Sai]

AMÁLIA:
[Deitando no sofá.] Então, qual é o problema?

[João entra com uma revista na mão. Ele senta na poltrona e abre a revista. Amália se levanta no sofá.]

JOÃO:
[Lendo a revista.] Você perdeu o jantar.

AMÁLIA:
Sobrou alguma coisa pra comer?

JOÃO:
Eu deixei um prato pronto na geladeira pra você.

[Amália salta do sofá para o colo de João.]

AMÁLIA:
Valeu, pai! [Beija a bochecha de João.]

[Mudança na luz: foco branco sobre João e Amália.]

AMÁLIA:
Nossa, pai! Isso é felicidade por mim, ou foi só pelo beijo?

JOÃO:
[Colocando a revista sobre a mesinha ao lado da poltrona.] Amália, sai do meu colo.

AMÁLIA:
Qual a pressa, pai?

JOÃO:
Amália, isso não tem graça! Sua mãe está em casa!

AMÁLIA:
Sabe, se você ficou assim por causa de um beijo na bochecha... [Beija a boca de João. Ele a abraça e aperta enquanto eles se beijam. Ela põe uma das mãos dentro da calça dele.] Sim, vejo que você está muito preocupado com minha mãe!

JOÃO:
Por quê você faz isso comigo, menina!?

AMÁLIA:
Por que eu não sou mais menina. [Aperta a mão dentro da calça do pai.] Eu sou uma mulher! [Deita-se sobre o colo de João.] Vamos, pegue! Eu sei que você quer!

[Com a mão que está livre, Amália guia as mãos de João. Uma para tocar os seus seios e a outra para baixo da saia, pra entrar na sua calcinha. Ela intensifica a massagem sob a calça de João. Depois de alguns gemidos, João volta a pegar a revista e levanta, enfurecido.]

[Mudança na luz: Geral.]


JOÃO:
Já chega!


AMÁLIA:
[Chorando.] Mas foi só um beijinho à toa! [Benedita entra,
correndo.]

JOÃO:
Você não pode mais continuar com esse comportamento, menina!

AMÁLIA:
[Levantando, furiosa.] Sim! Meu comportamento é infantil demais pra você?

JOÃO:
É sim!

AMÁLIA:
Bom, pois não parece! [Encarando João.] Mas pelo menos agora eu sei qual é o problema de verdade!

JOÃO:
[Senta na poltrona e coloca a revista no colo.] Ótimo. Quem sabe assim as coisas mudam por aqui, não?

AMÁLIA:
[Sai, esbarrando em Benedita.] Idiota!

BENEDITA:
Garota, isso não é jeito de falar com seu pai!

JOÃO:
Deixa, Dita! Ela está certa. Eu sou mesmo um idiota... [Volta a ler a revista.]

[Benedita se aproxima de João, observa-o, e senta-se no sofá. Amália entra com um prato na mão, e senta-se à mesa para jantar. Benedita observa Amália, e fica mudando o olhar entre ela e João.]

BENEDITA:
Sabe, vocês dois estão muito estranhos. O que aconteceu?

JOÃO:
Nada...

BENEDITA:
Se nada aconteceu, qual é o problema então?

[Mudança na luz: foco vermelho sobe João.]

JOÃO:
O problema é que eu sinto tesão pela nossa filha, Dita!

BENEDITA:
Cafajeste!

[Mudança na luz: Geral.]

JOÃO:
Não tem problema nenhum, Dita. As coisas vão se resolver.

[Mudança na luz: Corredor branco na boca da cena. Benedita já deve estar na boca da cena. Ela anda de um lado para o outro do palco, aflita. João entra, choroso.]

JOÃO:
Negativo, Dita. NEGATIVO! [Benedita abraça João.]

BENEDITA:
Acalme-se, meu bem.

JOÃO:
Mas eu queria muito ter um filho...

BENEDITA:
João, você não precisa fazer esse drama todo.

JOÃO:
[Se afasta de Benedita.] Drama!? Eu acabo de descobrir que nunca poderei ter filhos, e você diz que é DRAMA!?

BENEDITA:
E eu quero um filho tanto quanto você, mas não estou preocupada.

JOÃO:
Mas nós tínhamos tantos planos!

BENEDITA:
Eu sei.

JOÃO:
A gente já tinha até escolhido os nomes...

BENEDITA:
Roberto ou Luana. São nomes ótimos, não? [Sorri.]

JOÃO:
Você está sorrindo?

BENEDITA:
E por quê não?

JOÃO:
Mas... Você não está nem aí pra isso, né?

BENEDITA:
Eu não dou a mínima pro fato de você não poder transmitir seus genes a uma pessoa.

JOÃO:
E ainda tem coragem de dizer que queria um filho!

BENEDITA:
Eu quero!

JOÃO:
Ah, é? Pois não parece, não!

BENEDITA:
Mas eu quero sim! Um bebê pra amamentar, alguém além de você pra me tirar a tranqüilidade, que possa dividir sua atenção comigo. Alguém pra quem eu possa transmitir tudo que eu sei, e alguém que possa me manter informada sobre o que há de novo no mundo. E eu asseguro a você que nós vamos conseguir!

JOÃO:
[Irritado.] Eu não sei se você entendeu direito o que eu te disse, mulher! Eu não posso gerar filhos!

BENEDITA:
Eu entendi perfeitamente.

JOÃO:
[Irritado.] E como é que a gente faz então?

BENEDITA:
A gente adota! [João sorri e abraça Benedita.] Não se preocupe, João. As coisas vão se resolver.

[Mudança na luz: B.O.]


[Mudança na luz: Geral. Amália entra, vestindo somente um sutiã e uma calcinha, bem curtinhos, e se deita no sofá, lendo um gibi.]

BENEDITA:
[Da coxia.] Filha, cadê a sua roupa?

AMÁLIA:
Ih, mãe! Tá muito quente!

BENEDITA:
[Da coxia.] Mas, minha filha, e se alguém passa na rua e te vê assim?

AMÁLIA:
A essa hora da noite, só se alguém pular o muro e atravessar o quintal!

BENEDITA:
Você tentou usar uma roupa decente pelo menos?

AMÁLIA:
Claro! Você acha que eu gosto de ficar desfilando seminua por aí?

BENEDITA:
[Rindo da coxia.] Vê se não fica acordada até tarde!

AMÁLIA:
Tá bom.

[Amália lê algumas páginas do gibi. Da coxia, um barulho de copo caindo no chão.]

JOÃO:
[Entrando.] Mas o que é isso? [Amália vira uma página do gibi.] Amália!

AMÁLIA:
O quê?

JOÃO:
O que é isso?

AMÁLIA:
Isso o quê?

JOÃO:
Não se faça de desentendida garota! Isso aí que você está vestindo!

AMÁLIA:
Ué? Você não sabe?

JOÃO:
Eu quero dizer, pra quê você está... vestida assim!?

AMÁLIA:
Pra dormir, ué!

JOÃO:
E isso lá é jeito de uma menina decente dormir?

AMÁLIA:
Pai, é só sutiã e calcinha!

JOÃO:
Por isso mesmo!

AMÁLIA:
Se você não gostou, eu tiro!

JOÃO:
Eu acho muito bom! [Amália larga o gibi no chão, senta no sofá e
tira o sutiã.] O que você está fazendo?

AMÁLIA:
Eu tô tirando, ué!


JOÃO:
Veste isso de volta!


AMÁLIA:
Ué, mas não era pra tirar?


JOÃO:
Não! É pra você ir pro seu quarto pôr um pijama por cima disso!

AMÁLIA:
[Veste o sutiã, pega o gibi no chão e deitando no sofá.] Sinto muito, está muito quente!

JOÃO:
Tá mesmo...

[Mudança na luz: Foco branco sobre João e Amália.]

AMÁLIA:
Se eu fosse você eu fazia a mesma coisa! [Larga o gibi no chão.] A gente podia aproveitar e tirar logo tudo! Aí a gente ia poder brincar um pouquinho, aqui no sofá mesmo! Mamãe não ia nem perceber! [Levanta do sofá e caminha até João.] Você gosta da idéia, não gosta? Nós dois, sem roupa, abraçados naquele sofazinho apertado. Eu gemendo... Dá pra ver nos seus olhos... [Beija a boca de João. Afasta-se de João e deita no sofá.] Vem! Aproveita! [Recolhe o gibi no chão. Mudança na luz: Geral.] Se eu fosse você eu fazia a mesma coisa!

JOÃO:
Hunf! Eu vou relevar dessa vez. [Amália levanta.] Mas é melhor que isso não se torne um hábito.

AMÁLIA:
Não se preocupe. Eu não quero morrer de frio no inverno. [Sai por onde entrou.]

[Mudança na luz: Corredor branco na boca da cena. Uma jovem entra, carregando nos braços um bebê, acompanhada por Benedita.]

BENEDITA:
E você tem certeza que não vai se arrepender?

JOVEM:
E eu lá tenho cara de mãe, Dona?

BENEDITA:
Não...

JOVEM:
Eu detesto crianças! Só não tirei essa por que achei o muito caro o preço daquela clínica de aborto. Se é que dá pra dizer que aquilo lá é clínica!

BENEDITA:
Então! Eu fico com ela!

JOVEM:
Faça bom proveito!

BENEDITA:
E ela já tem nome?

JOVEM:
Eu chamo ela de coisinha. Mas acho que você não vai querer colocar esse nome no registro dela, né, dona?

BENEDITA:
Claro que não!

JOVEM:
Eu tenho que trabalhar, tá, dona! Tchau!

BENEDITA:
Tá bom. A gente se fala.

JOVEM:
Há! A gente nunca mais se fala, dona!

[Benedita e a jovem saem. Mudança na luz: Geral. João sentado na poltrona, lendo um jornal. Benedita entra com uma pilha de roupas e um ferro de passar. Ela põe a pilha sobre uma cadeira, estende um cobertor dobrado sobre a mesa, forra-o com um lençol e põe-se a passar as roupas da pilha.]

AMÁLIA:
[Entrando serelepe.] Mamainhazinhaaaaaaaaa!

BENEDITA:
Fala filhota.

AMÁLIA:
Os pais do Paulo vão passar o final de semana na fazenda, e ele tá sozinho em casa, e ele queria saber se ele pode ficar aqui esse fim de semana...

[Mudança na luz: foco branco sobre Amália e Benedita; foco vermelho sobre João.]

JOÃO E BENEDITA:
Mas é claro que não! Você acha que isso aqui é algum bordel pra você ficar trazendo seus amantes, quando bem entender, pra dar uma trepada, é, garota?

[Mudança na luz: Geral.]

BENEDITA:
Claro que pode, filha!

JOÃO:
E onde ele vai dormir? No sofá?

AMÁLIA:
Não, no meu quarto, né? Você acha que eu vou deixar meu NAMORADO dormir nesse sofá de marido rejeitado? [Sai.]

JOÃO:
Que idéia de jerico foi essa, Dita?

BENEDITA:
Não se engane, João! Com certeza era isso ou eles fazerem a farra na casa vazia!

JOÃO:
Claro que não! Vai dar esse acesso livre assim...

BENEDITA:
[Largando o ferro.] Vem cá, João? Você vai querer acorrentar a garota agora?

JOÃO:
Não! Mas eu sei muito bem o que essas crianças pensam nessa idade!

BENEDITA:
E você foi muito diferente né?

JOÃO:
Eu tinha o controle dos meus pais!

BENEDITA:
[Voltando a passar roupa.] E pelo visto, adiantou muito!

JOÃO:
Será que tem correntes nos classificados?

BENEDITA:
Pois sabe o que eu vou fazer? [Larga o ferro.] Eu vou falar pra ela ir pra lá, passar o fim de semana com ele! E pra aproveitar e convidar uns amigos também! Quem sabe eles não fazem uma suruba das boas?

JOÃO:
Quer parar com isso, Dita?

BENEDITA:
É sério! [Se aproximando de João.] Vai ser bom ter um fim de
semana, só nós dois, não vai?

JOÃO:
[Saindo de trás do jornal.] É. Que ótima idéia, meu amor!


BENEDITA:
Eu vou falar com ela agora então! [Beija João, recolhe a roupa e o ferro e sai. Mudança na luz: B.O.]


[Mudança na luz: Geral. João deitado no sofá. Benedita entra e
senta-se ao lado dele.]

JOÃO:
Ela já foi?

BENEDITA:
Definitivamente sim! [Instantaneamente João se levanta e agarra Benedita. Depois de alguns segundos enroscados:] Isso tudo só por que está sozinho comigo em casa?

JOÃO:
E por quê mais seria? [Voltam a se agarrar. Entre muitas mãos bobas e chupões em lugares inusitados, eles vão tirando as roupas e saindo. Sons de objetos caindo. Sons de cama rangendo, mais tarde acrescidos de vários gemidos e gritos de êxtase. Depois de alguns minutos de fornicação e palavras chulas, grita:] AH! AMÁLIA! [Longo silêncio. Benedita entra na sala, se vestindo. João entra logo em seguida, também se vestindo.] Dita, desculpa. Eu...

BENEDITA:
Você vai ter que arranjar algo melhor que desculpa, João.

JOÃO:
Eu sei. É que, eu não sei explicar bem...

BENEDITA:
É claro que não sabe explicar! É nossa filha! Como é que você explica isso? [Grita:] NOSSA FILHA JOÃO! NOSSA CRIANÇA!

JOÃO:
[Grita:] Eu sei, Dita! É só que... [Baixa o tom de voz, derrotado.] Bem... Ela não é mais uma criança...

BENEDITA:
Ah, eu entendo. E você agora quer me trocar por NOSSA FILHA, não?

JOÃO:
NÃO! BENEDITA, CLARO QUE NÃO!

BENEDITA:
Não foi o que pareceu lá dentro!

JOÃO:
Benedita, eu nunca te trocaria por ninguém! [Força Benedita a olhar nos olhos dele.] EU TE AMO!

BENEDITA:
Então o quê, João?

JOÃO:
Eu acho... é só tesão! Isso passa, não passa? Quer dizer, eu amo minha filha, mas não existe paixão, entende?

BENEDITA:
Não, eu não entendo!

JOÃO:
O que eu estou tentando dizer, mulher, é que isso vai passar! Não é nada sério!

BENEDITA:
AH, E ME CONFUNDIR COM SUA FILHA ENQUANTO VOCÊ ME FODE TAMBÉM NÃO É NADA SÉRIO!

JOÃO:
Não, não é!

BENEDITA:
Ótimo! Já que é assim, você hoje vai dormir no sofá de marido rejeitado!

JOÃO:
Tudo bem. Eu durmo. Se você vai continuar ao meu lado, eu durmo até na grama do jardim.

BENEDITA:
Não seja ridículo, criatura!

JOÃO:
Como, se você está sendo ridícula comigo? Eu tou com um problemão, precisando de você pra passar por isso, da sua ajuda, e você me manda dormir no sofá, mulher?

BENEDITA:
Agora é problemão? A menos de um minuto nem sério era!

JOÃO:
E não é! Mas isso não diminui o problema diminui? Ela é nossa filha!

BENEDITA:
Você devia ter me contado...

JOÃO:
Agora que não adiantou ter evitado esse circo, devia mesmo!

BENEDITA:
E então? O que a gente faz?

JOÃO:
Eu não sei! Eu ando muito confuso com isso?

BENEDITA:
Quer que eu tranque os dois no quarto até o tesão ir embora?

JOÃO:
Quer parar de ser ridícula?

BENEDITA:
Desculpa, eu ainda estou com muita raiva!

JOÃO:
Eu vou ter que explicar tudo de novo?

BENEDITA:
Não perde seu tempo! Não existe mulher no mundo que goste de ser chamada pelo nome de outra na cama...

JOÃO:
Você vai me ajudar?

BENEDITA:
CLARO! Foi pra isso que eu me casei contigo, não? Até que a morte nos separe?

[Eles se encaram por alguns segundos, se abraçam e se beijam. Depois de alguns segundos se agarrando, João começa a tirar a roupa de Benedita, mas é interrompido por uma das mãos dela.]

JOÃO:
Eu juro que fico calado!

BENEDITA:
Eu acho que não vai precisar.

[João continua tirando a roupa de Benedita. Mudança na luz: B.O.]

BENEDITA:
[Voz.] E o nome?

JOÃO:
[Voz.] Amália!

BENEDITA:
[Voz.] Mas Amália tem MAL no meio do nome!

JOÃO:
[Voz.] Não seja negativa, Dita. Vai até parecer ridículo, mas é Amália porque nós iremos amá-la muito!

BENEDITA:
[Voz.] É ridículo mesmo, mas é verdade! Nós iremos.

JOÃO E BENEDITA:
[Voz.] Nós iremos amá-la demais.

[FIM]

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